
O governo dos Estados Unidos iniciou uma investigação comercial sobre o que chamou de práticas “desleais” do Brasil, uma semana após o presidente Donald Trump ameaçar impor uma tarifa de 50% sobre as importações brasileiras.
O Escritório do Representante Comercial dos EUA afirmou nesta terça-feira (15/07) que a investigação visa determinar se “as ações, políticas e práticas do governo do Brasil” são “irracionais ou impedem ou restringem o comércio dos EUA”.
“Sob a orientação do presidente Trump, estou iniciando uma investigação nos termos da seção 301 sobre os ataques do Brasil”, acrescentou o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, referindo-se à Lei de Comércio de 1974 dos EUA.
Entre as vítimas desses ataques, ele relacionou as empresas de redes sociais e outras empresas americanas, bem como trabalhadores, agricultores e inovadores tecnológicos, que ele descreveu como prejudicados pelas “práticas comerciais desleais” do Brasil.
O governo americano está irritado com “atos, políticas e práticas” possivelmente “desarrazoadas ou discriminatórias” relacionadas ao comércio digital e serviços de pagamento eletrônico, tarifas preferenciais injustas, interferência anticorrupção, proteção da propriedade intelectual, acesso ao mercado de etanol e desmatamento ilegal, de acordo com o comunicado.
EUA chateados com o Pix?
Embora não cite nominalmente o Pix – sistema brasileiro de transferências em tempo real –, o relatório do governo americano sinaliza insatisfação com a promoção de “serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo”, por temer que eles prejudiquem “a competitividade de empresas americanas que atuam no comércio digital e em serviços de pagamento eletrônico”.
O Pix é o único serviço de pagamento eletrônico desenvolvido pelo governo brasileiro. Ele revolucionou o sistema bancário ao permitir transferências ilimitadas livres de tarifas bancárias.
O sistema foi introduzido em 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), embora os estudos que levaram à criação tenham começado ainda em 2018, sob a gestão de Michel Temer (MDB).
A modalidade de pagamento já é aceita por alguns estabelecimentos na Argentina e em algumas cidades dos EUA e Portugal, e o Banco Central quer internacionalizá-la. Outra funcionalidade em desenvolvimento é o Pix Garantido, que possibilitaria o parcelamento de compras.
O Pix levou bancos a perderem receita e tirou força de modelos de pagamento desenvolvidos por empresas americanas, como o Google Pay, o Apple Pay e a ferramenta de pagamentos do WhatsApp por cartão de débito de um grupo restrito de bancos – o recurso foi descontinuado no ano passado.
Fonte: DW.COM